Estava lendo um texto do Rubem Alves que está no livro “O velho que acordou menino”, indicação do Vestibular da UEMG – Campus de Passos, que se chama “Início da minha educação sexual”. Nele, o autor fala de quando descobriu a diferença entre homem e mulher, de um jeito bem engraçado, e conta que quando viu uma mulher grávida quase morreu de susto. Na época de Rubem, as coisas – digamos, os assuntos sobre sexo e sexualidade – eram menos explícitos.

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Diante de tanta confusão na mídia por causa da polêmica da travesti crucificada na Parada Gay de São Paulo, fiquei pensando em como tudo era melhor quando nem tudo era explícito. Vivemos num mundo da imagem. E as imagens que permeiam nosso dia a dia, não são quaisquer imagens, mas imagens grosseiras, escandalizantes, quando não são sexualizadas, são imagens de violência e terror. Ou então, imagens sempre alusivas ao poder, à ambição, ao desejo, resumindo: instintivas.

Antigamente todo o processo de construção da sexualidade de uma pessoa era um processo. Uma descoberta. O percurso da sedução é esse: a conquista, o buscar, o descobrir, o testar, o achar. O que impera agora é mostrar, cutucar, esfregar… Vemos a bunda do Rodrigo Lombardi na nova novela das 23 horas, vemos cenas quentes a todo momento… Podemos perceber também, nas atitudes dos adolescentes que abraçam-se furtivamente, esfregam-se um no outro, sem ter limites.

O que estou dizendo aqui não significa puritanismo, mas perdeu-se a curiosidade. O voyeurismo é um termo em francês que fala da curiosidade de ver o outro em situações íntimas e privadas. Essa curiosidade ainda existe, pois ainda há o desejo de ver o escondido, mas a cada vez esse escondido vai ficando pior. Se o que antes se via eram mulheres seminuas, hoje se vê cadáveres, cenas aterrorizantes de acidentes e tudo mais.

Essa curiosidade inocente, meiga e pacífica do menino que não sabe a diferença entre o homem e a mulher tem-se perdido. Não se busca mais o afeto, o simples da vida, mas tudo é explícito, mostrado, escancarado.

Para pensarmos e não termos apenas saudosismo em dizer que tudo era melhor quando nem tudo era explícito, precisamos fazer a educação dos nossos sentimentos e dos nossos olhares e principalmente daquilo que mostramos. exibimos. Com as redes sociais que são pontos de exposição ainda maiores, é comum a sexualização e a banalização do corpo à mostra. Um corpo que se mostra, muitas vezes é um corpo que se cala. Irei falar mais sobre o corpo (tratado como discurso) nos próximos posts.

Mais uma vez, obrigado a todos que acessam e leem meus singelos textos.